sexta-feira, 30 de março de 2007

Fiat Lux


Fiat Lux
Liris Letieres

Nunca mais!
Nunca mais me arrependo
Nunca mais prometo
Nunca mais!
Já me rendi muito
A partir de já, sou nunca mais.
Verei o sol.
Não pedirei, verei o sol!
Arranco essas vestes emprestadas
Terei as minhas
Nunca mais pedirei favores
O tempo obscuro cai em óbito agora
Transmutarei essa realidade
Que não é minha
E terei minha realidade
Como eu quero
Porque assim quero!
E quanto a você, estado de desejos
Que morra!
Não serei mais desejo
Sou fato!
Em mim só luz, portanto, desintegro a escuridão
Prometo a mim mesma
Nunca mais!
Findou-se, era de perdas.
Sou ganhos.
Fiat lux!

domingo, 25 de março de 2007



Janela de Igreja
Liris Letieres

Quero subir!
Eu também!
Vem braço amigo e levanta
Apóia a curiosidade de criança
Assentam-se na janela da igreja
Pra que tudo lá fora o olho veja
Pois olho de menina é bicho inquieto
Nem em solo sagrado se põe veto
Lá fora, um viveiro acanhado
Perde o dia que andava sossegado
Vão os olhos vasculhando o cenário
Cadê o pombo, o sabiá e o canário?
E o padre alheio a tudo, apressado.
Toca o sino chamando pra o batizado!

sábado, 24 de março de 2007

Fuga em falsete
Liris Letieres

Nos ouvidos de outros
Visitar labirintos
Me perder
Me achar
Presa ao fio do som

Ariadne às soltas
Ao cantar desafino
A canção transbordando
Quando eu canto é sentindo

Vou cantar
Ao invés de fugir
Vou cantar
E ficar mais em mim

Um cantar que fulmine
As tristezas da alma
E que só sobrevivam
As tristezas dos filmes

Mas te mando um aviso
Um aviso de amigo
Se quiser me calar
Amplifico sentidos

Vou cantar
Ao invés de fugir
Vou cantar
E ficar mais em mim

Num agudo de Diva
Me transformo em mistério
Retirando o teu sono
Vou cantando em estéreo

Caso ache bobagem
Esse meu desatino
Rasgo a voz da garganta
E prossigo sorrindo

sexta-feira, 23 de março de 2007

DesaCONSELHO
Liris Letieres


Tô em crise (de novo)!
Ultimamente venho amanhecendo adormecida
Meio zonza
Sem coordenação
Esquivando-me dos espelhos da casa (logo cedo é demais encarar-me, ainda mais sem o ameno de uma gota ,sequer, de produção).
Um batom para afugentar a palidez
Um lápis para acordar mais o olhar
Sei não, a gente vive tapeando (ou pensando que tapeia) a ação do tempo.
Anti-rugas à noite
Loção de manhã
Maquiagem é quase um rebôco!
E eu, tirada a esperta, me escondo detrás dela.
Tolos! Não vão me ver!
Tento fisgar olhares, mas passo despercebida...
Tola! Eles podem me ver escondida!
A idade, o tempo, as dores, a alma vivida, carregada de histórias, tudo transpira na cara e na fala...
É, todos os dias têm sido por aí, afinal, estou nos 40!
Quando me falaram e me aconselharam sobre essa fase, eu não estava nem aí!
Podia ter me preparado melhor...
Mas não vem não, viu?!
Não vem pra cá com essa história de idade da loba (tô mais pra louca), da maturidade mais bela feminina...o scambau!
Subo mesmo é no banquinho, e seguro com meu dedos cheio de creme para as mãos, os ponteiros do relógio da cozinha!
Brinco de Deus.
Dá certo não...
Procuro todos os dias as danadas das curvas....
Só sobraram no vinil as da Estrada de Santos do velho Roberto.
Velho...
Velha...
Caramba! Isso é que é crise!
As dos 15, foi fichinha!

sábado, 17 de março de 2007

SAUDADE REEDITADA

Saudade Reeditada
Liris Letieres

Minha saudade derradeira
Foi perdendo a esperança
Tanto cresceu , virou adulta
Já não é mais uma criança.

É saudade peregrina
Que dá um pulo ordinário no passado
E de lá traz sacola cheia
Do que não foi alcançado

Saudade de rolar lágrima
Solitária...
Espremida...
Um sumo, uma essência
Da lembrança nunca esquecida!

quarta-feira, 14 de março de 2007

No túnel do tempo.

No túnel do tempo.
Liris Letieres

Não era nem criança, nem era adulta ainda, aquela transição esquisita de idade que a gente não sabe nem pra que time torce. Eu, minha mãe, minha irmã um pouco mais velha que eu, e uma "meio amiga", fomos fazer nossa primeira visita à nova sensação do momento em Salvador, o Shopping..
Antes de começar a história, deixa eu explicar esse caso de "meio amiga".
Ainda não tínhamos criados laços, ela era vizinha recém chegada no prédio, que veio se infiltrando na conversa de minha mãe com a mãe dela:
- Berê (era assim que minha mãe chamava, aquela que seria anos depois, a Tia Bê - tia de "consideração"-, pra mim), vou levar as crianças para conhecerem o Shopping novo, dizem que é um sonho!Artemízia (Tia Miza, consangüínea mesmo!) foi, essa semana e até se perdeu de tão grande!
- Ah, Carminha! Dax, (não estranhem não, é nome verdadeiro, Dax, tempos depois, "Tio Dax") prometeu que ia levar a mim e a Marcinha (eis o nome “da “meio amiga;” Marcinha) para conhecer , e até hoje!
Minha mãe, altruísta que era, prontificou-se a levá-las claro, naquele momento pra todos da cidade era um crime privar alguém de conhecer o lugar mais falado do momento.
_ Se vocês quiserem podem ir comigo! Salpicou minha mãe, Seu Martinho nos levará hoje à tarde.
Eu, assistindo a conversa aos pedaços, porque corria de felicidade, entrando e saindo do apartamento, pra já ir preparando uma roupa a caráter (lembro como hoje: bermuda e blazer brancos com collant azul royal por dentro, não riam não, era moda quentíssima da época) e, avisar minha irmã da novidade. Percebi em uma das minhas voltas, que a Marcinha já fazia o mesmo. Corria porta à dentro do apartamento vizinho e voltava com rosto suado (será que o cabideiro dela era tão alto quanto o do meu guarda-roupa, que tinha que escalar no beliche pra alcançar?).
Mas eis que a Tia Bê, dá uma resposta, que pega a pobre da Marcinha completamente despreparada:
_ Hoje, Carminha? Mas dia de hoje eu tenho que levar a Marcinha para a aula de piano. É o segundo dia de aula, sabe. Mas mesmo assim amiga, obrigada pelo convite.
Não deu outra. No fechar de boca de Tia Bê, foi o exato instante do abrir gigantesco da boca de minha “meio-amiga” Marcinha, aos prantos!
_ Eu não quero ir pra aula de piano! Eu quero ir pra o Shopping!
E chorava convulsivamente!
Tia Bê , tentava conciliar a situação falando da importância das aulas de piano, apelou até pra o alto custo da hora/aula, mas nada! Marcinha não se conformava!
Discussão encerrada, corremos, ambas, para nos aprontar para a tão esperada visita.
Resultado:
Lá se fomos, eu, minha mãe, minha irmã um pouco mais velha que eu, e uma "meio amiga", fazer nossa primeira visita a nova sensação do momento em Salvador, o Shopping.
Descemos juntas, as escadas do prédio (naquela época, poucos prédios com elevadores existiam – o que nos levava a ter mais um grande motivo para irmos ao Shopping, “as escadas rolantes” um mini parque de diversões!).
De olho investigativo nos trajes de Marcinha, para ver se ela estava tão na moda quanto eu, vi que ela estava “completamente por fora”, usando um vestido tipo jardineira e um casaco verde esquisito, amarrado na cintura (que depois eu soube, fora dado pela mãe, pois tinha ar condicionado “forte” no Shopping).
Entramos no carro e, em poucos momentos, cruzamos a Pituba (morávamos na rua Amazonas) e pegamos a via para o Shopping. Descemos do carro com olhares estatelados e curiosos, tanta gente, tanta novidade, tantos blazers com bermudas e collant! Ríamos de tudo! Minha mãe e minha irmã seguravam em nossas mãos e percebi que compartilhavam dos mesmos sentimentos meus e certamente de Marcinha.
Subimos as famosas e divertidas “escadas rolantes” e descemos e subimos e descemos e subimos de novo, era emocionante! Os olhos presos nos degraus para pular o quanto antes da chegada ao andar.
Quando no meio daquela alegria, eu já toda descabelada, suada, amando o Shopping, Marcinha dá um grito!
_Dona Carminha! A Liris se machucou!
Não, eu não havia me machucado. Minha regra chegara pela primeira vez e a roupa branca da moda, nada podia esconder.
Sei, que foi preciso retornar às pressas para o carro, e, ainda hoje eu me lembro: Ai de mim se aquela que eu chamava de “meio amiga”, a Marcinha, não estivesse lá! Nem aquele seu esquisito casaco verde que voltou pra casa, amarrado na minha cintura.

quinta-feira, 8 de março de 2007

CRÔNICA DE UMA PEDESTRE
Líris Letieres


Então foi assim:
Acordei cambaleantemente "sonada".
Liguei, em alguns momentos, o meu piloto automático
Bebi alguma coisa parecida com café
Sandália no pé, dedo no botão do elevador, espera...
A companhia surpresa de uma vizinha ao lado na mesma espera.
Conversa de elevador:
- Bom dia! Que chuva hein?!
Eu doida por uma conversa respondo
- É.
Me apoio nos braços nas paredes do elevador e ressono...
A vizinha não desiste:
- Vai pra o trabalho não é?
Monossilabicamente eu:
- Ô!
Ela então apela:
- Vai pra o mesmo lado que eu? Quer carona?
Acordei.
- Vou sim. Claro que quero. Não vou atrapalhar?
Não atrapalhei. Entrei no carro como se fosse rotina essa carona, prestei atenção para ser bem atenciosa (talvez compensasse o monossilábico discurso no elevador)e, retornasse em futuras outras caronas.
Puxei conversa com um outro carona que estava no carro, o neto da vizinha. Claro que esse, era carona oficial.
- Tudo bem Bruninho?
O menino ria com os olhos, talvez soubesse de todo meu tosco teatro de boa moça.
- Boa aula, Bruninho!
E virando para a vizinha “desnominada” pela minha memória:
-Obrigada pela carona!
Esqueci de fechar a janela do carro quando desci “LONGEPRACACETE” , do caminho que faço, diariamente, a pé, para o trabalho.
Agradeci.
Mas, acho que não foi bem “esquecimento”, o negócio de fechar a janela.

quarta-feira, 7 de março de 2007

TEMPERANÇA

Temperança
Líris Letieres

Nem vou dizer queria.
Eu quero!
Quero poder fazer duas, três coisas ao mesmo tempo!
Hoje me aborreci...
Não podia digitar meu login no computador
E, ao mesmo tempo, digitar no celular o número de minha filha!
A (in)capacidade não colabora com a vontade...
Aí, atrasou!
Não foi na hora que eu queria.
Tempo, seu desonesto, fica mudando meu entendimento sobre você!
O agora, já foi e o amanhã, nunca chega?!
Eu queria era acabar logo de fazer...
Mas, nem se arvore a saber pra que essa correria.
Eu, é que não sei.
Tô com tanto tempo!
Tempo sobrando da grande vontade de não fazer nada!
Porque o que fazer, realmente, eu tenho e muiiiiiiiiiiiito!
Me dá um tempo, Liris!