quinta-feira, 22 de maio de 2008


Lucidez Tardia
Liris Letieres

Distancio-me de minha trilha pessoal a cada dia
E é um desvio consciente, isso é o pior
Ter noção do percurso enganoso.
Vejo-me de longe:
A que eu queria ser
Ter sido...
Uma “eu” tão diferente
Resquícios dessa eu, insistem uma sobrevida.
Mas vou deixando caquinhos dela pelo chão.
Como seria?
Como teria sido?
A infamidade do tempo que corrói as horas
E não deixa nada no prato, grita:
Perdeu!
Agora só em outra encarnação!

domingo, 11 de maio de 2008

Meu Dia das Mães de Papel


Amor de papel
Liris Letieres

Acordei angustiada
Tinha acabado de ter um pesadelo com minha filha
Levantei e a olhei dormindo
Um alívio.
Na porta do quarto havia um início de caminho
Feito de coraçõezinhos de papel ofício, pintados com lápis de cor.
Segui, já prendendo o choro, os coraçõezinhos feitos na madrugada.
Eles me levaram até uma mesa posta.
Um coração enfeitava a minha xícara e o meu remédio da garganta.
Vi um ramalhete reciclado, com flores de papel oficio bem cortadinhas, em diversos tamanhos, presas na ponta das hastes no que antes fora um buquê de aniversário de um mês de namoro que minha filha ganhara dias atrás.
Desabei.
Chorei um choro hibrido: de alegria, emoção, alívio, dor e amor.
Nem bem acalmava o aguaceiro dos olhos, vi outro bilhete de papel ofício.
Este, preso ao aparelho de som, dizia assim: - Ponha o CD 1.
Coloquei.
Sentei no sofá junto com Marisa Monte e chorei mais ainda.
Uma música alegre e eu aos prantos no contraponto.
Fui pra cozinha, agora eu já sabia que tinha mais.
No microondas, outro bilhete no papel ofício que dizia: _ Fiquei com medo de colocar o beiju aqui e estragar. Coloque pouco tempo para não desidratar! E um coração desenhado como assinatura.
Amor por toda casa, disfarçado de papel ofício matizado com lápis coloridos.
Descrevo aqui, com o peito em festa, meu amoroso, único, valioso e feliz dia das mães de papel.