sábado, 28 de abril de 2007


Você nem desconfia
Liris Letieres

Desconfie sempre
Sempre que sua alma ande muito quieta
Ou não se manifeste
Desconfie.
Se não lhe incomoda a dor do outro
Se não percebe a ausência de sorrisos das pessoas
Se você passou pelo dia e não olhou nos olhos de ninguém
E mesmo assim, “dormiu como um anjo”
Desconfie.
Sua alma certamente, está aprontando das suas
Talvez queira fugir de você
Escapar
Almas são assim
Precisam estar sob cuidados e sob controle
Cuidados do coração
Controle da mente
Almas vazias de corpos circulam aí, aos montes!
Não é à toa que muita gente fala:
-Esse (a) aí é um (a) desalmado (a)!
(Faço-o com tantos parênteses para não escapar ninguém)
Mas, por que se tornou assim?
Tornou-se assim por não cuidar...
Por não tratar da alma...
Por que a alma, lá um dia, se questionou:
_ Que zorra eu estou fazendo por aqui?
Não me usa
Não me escuta
Não me alimenta...
Vou desabitar
Fui!
Almas comem fé
Almas se banqueteiam de amor
Almas saboreiam atos solidários
Se não as alimentam, fogem ou morrem a mingua.
Pobres de nós, sem almas.
E, que mesmo assim, teimamos sobreviver sem elas.

Algoz: uma verdade inconveniente
Liris Letieres

Chove em mim
Aliás, tem chovido com muita freqüência em mim.
Esse meu serviço meteorológico anda esquisito:
Previsão de choro no final da tarde
Apertos parciais no peito, logo pela manhã...
“Esquecimento global” faz isso com a gente
Descuidamos da nossa natureza humana
E o nosso mundo pessoal entra em colapso
Devastamos nossas florestas de esperança
E crescem áreas desérticas de sentimento no nosso coração
Coração ressequido, terra árida.
Poluímos com idéias capitalistas nossas mentes
E causamos verdadeiros buracos nas camadas
De sensibilidade da nossa alma.
Tornados de raivas, sem sentido, movidos pelo stress
Destroem alguns acres de amizades.
Quase à beira da extinção
Somos algozes da humanidade
Humanidade nos gestos
Humanidade nos pensamentos
E vamos nos esquecendo...
Há um esquecimento global se alastrando no planeta
Dia desses, sei não, acordaremos andróides.
Viraremos máquinas.

“NÃO SOIS MÁQUINAS!
HOMENS É O QUE SOIS!”

Ah! Chaplin, Chaplin!

segunda-feira, 23 de abril de 2007


A chegada
Liris Letieres

Sempre achei uma coisa linda, “chegar”.
Quando a porta se abre e a pessoa que havia marcado pra chegar, chega, não é lindo?
Um carro buzinando, a carona chegou!
A campainha na porta: chegou visita?
Mas quem é?
A chegada inesperada então? É algo realmente mágico.
Alguém disse que vinha, prometeu... e veio!
Pronto! Pra mim essa pessoa merece crédito!
Eu penso assim.
Prometer que chega e chegar, pra mim é ato nobre. Vejo com bons olhos os cumpridores desse tipo de promessa.
_ Eu vou!
E vem mesmo! Chega e pronto, tá feita a mágica.
Pra mim quem chega, me dá um sentimento que quase sempre, vem carregado de coisas boas.
Agora, uma coisa eu não sei explicar direito: não suporto esperar!
A angústia de não ver “chegar”, dói meu estômago.
Entristece-me, perco a fome ou como feito louca.
Não, realmente esperar não é o meu forte, mas, ver CHEGAR é meu fraco!
*NA FOTO ACIMA A NOIVA TINHA ACABADO DE CHEGAR!

domingo, 22 de abril de 2007


Nada de Dia!
Liris Letieres

Nada de oca
Nada de tribo
Nada de nada
Apitando no ouvido

Nada de festa
Nada de papo
Nada de nada
Que não seja o ato

Nada de pena
Nada de jeito
Nada de nada
Que não: o respeito

Nada de moda
Nada de chiste
Nada de nada
Que o Índio tá triste

Nada de fim
Nada de início
Nada de nada
De DIA do ÍNDIO!

sábado, 7 de abril de 2007

(Arte grafite Denis Senna)


Trem da Calçada
(um passeio no sábado de aleluia)
LirisLetieres

Vou andar de trem
Trem do subúrbio
Lindo

Soturno
Todo pintado
Bem grafitado
Novo
De novo
Trem do absurdo
No submundo
Lá vai o trem
E eu no balanço
No vai e vem
Vai meu bem
Andar de trem...
Andar de trem...
Andar de trem...

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Imagem:
www.lendoesonhando

TA LENTO...
Liris Letieres

Pensei:
No dicionário, sei que TALENTO é tanto moeda da antiguidade como também aptidão natural, embora me assombre a falta de modéstia do Aurélio, quando diz que TALENTO é pessoa muito inteligente. Que diaxo seria então, INTELIGÊNCIA pra seu Aurélio? Ta lá: destreza mental.
Parto então para o oposto, o antônimo, o contrário, o outro lado da moeda da antiguidade e deparo-me com: Inapto.
Corro esses olhos fuçadores, que acham na vizinhança “Aurelesca” o verbete: TALANTE que na sua significância afrontante, manda como um bofete: vontade, querer, empenho dedicação. Corro o olhar, um pouco mais acima e me chega às vistas TALA que ta lá, não minto, é: chicote, dificuldades, dedicação.
Respiro profundamente e, atordoada, chego a uma conclusão bem “Liresca”. É me adjetivei...

Pra que talento?
Pra que moeda?
Não tendo empenho
Vai dar em merda!

E se as inteligências são agora múltiplas
Não tem destreza, nem vale súplicas
Não adianta tanta vontade
Se o que lhe falta é habilidade.

Dá de chicote ou palmatória
Se o forte é artes e não oratória
Vai dedicar-se
Vai empenhar-se
Nem mesmo assim
Aptidão te nasce!

E o que acumula com a idade
É trafegar na mediocridade.

E como sempre
O que me resta
Não é tristeza
Não é lamento.
É poder contar
Nessas madrugadas
Com meu pensamento
Não com meu TALENTO.

quinta-feira, 5 de abril de 2007




Constatação
Liris Letieres

Ler o mundo é interpretar
Imagens do cotidiano
Fazer leitura de rodapé
Saber levantar o pano

Ler mensagem subliminar
É querer ver e enxergar
Descobrir o descoberto
E desconfiar do certo

Entender hieróglifos
Decifrar garatujas
Ler mundo é escavar você
E sair com mãos bem sujas

É ler através da pele
O entorno, o através
Buscar trajetos incertos
Caminhando de viés

É ouvir outras leituras
É soletrar devagar
É emudecer garganta
E é de-co-di-fi-car

Ler o sânscrito
Em braille
É sentir doer e curar
E descobrir-se absolutamente
Um analfabeto ao tentar.

quarta-feira, 4 de abril de 2007


ARTESTRANHA
Liris Letieres

Engolir sapos é uma arte
Arte esta em que não quero ter destreza
Mas devo reconhecer que é uma arte!
Admiro quem o faça
Com arte, é claro!
Engoli-los como quem engole pílulas placebo
Sem caretas, sem efeitos.
Com classe.
Classe típica de quem constrói verdadeiros brejos no estômago.
Eu?
Eu os rumino
Eles não descem
Eles travam na minha garganta
E saltam, enlouquecidamente para fora
E, sem classe alguma
Saem em meio a vômitos de palavras
COACH!

Valsa da Farsa
Liris Letieres

Não acredite em minhas promessas
Meça
Cada palavra minha, cada macete
Atente
E de qualquer gesto meu, desconfie
Confie
Apenas na sua intuição
Imagem: "Sonho de Valsa"- Marciomelo